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6 de jun. de 2008

Poema: Em outras palavras

Um dia desses, quando eu escrevia no meu diário na praça verde do midway, me perguntaram sobre poesia e se eu não escrevo poemas de amor. Respondi que sim. Afinal, o que as pessoas mais esperam de um poeta? Os poemas de amor e ódio.
Então, aqui em baixo, um exemplo de texto de amor que recebi de um amigo e que espero que revele muito bem a minha forma de pensar sobre como se escreve "amor".





EM OUTRAS PALAVRAS
(Lucas, o Kyo)

Na fúria e febre é que mergulho direto
nas altitudes dessa hedionda bondade
e objeto me abandono desmesurado e triste
na paina algodoada e por um ato de vontade
me reverto em somatório de frangalhos

miséria líquida que me encharca corpo e alma
à revelia de você, muitíssimo propensa
ao arroto cristão e ao peido benemérito
ao muco esquizofrênico e ao arrepio ecumênico
chispante de solidariedade humana e a tantas
outras coisas limpas, reluzentes,
de consequências puras e alheias ao amargo
som das ruas e destituídas de esgotos ou migalhas
ou mesmo de sofreguidão ou porra ou pus

você, linda linda ao banho
espumejando xampu e descascando escamas dignas
pelo ralo e descabelando cabelos que se escovam
renitentes e pentelhando pelos que grudam
em nosso sabonete e na minha língua e até
no abandono ensolarado de nossas vidas

É também com claro desespero que farejo
em tua virtude a minha morte e que me entrego
assim tão gasto, puído e molesto e com esse suicídio
em riste como espada empunhada por beato, puta
ou fada, mas sempre sem eira nem beira

mas continuamente a ponto de perder
as estribeiras como alguém habilmente esquecido
do futuro e do passado, e se te procuro
é porque continuo enrodilhado neste apuro
e neste amargo som de bile e nesta noite terna
que tritura eternamente as agruras de morrer

Mas com este abissal e vigoroso amor
é que te odeio – entregue embora ao pânico
de olhar e de sorridente tecer rendas das trevas
e com elas adornar estes quatro cantos de alma
e de percorrer enérgico os incontáveis
cantos de uma cama e de – canonizado em penúria
de milagres – fundir minha seca à umidade
do teu sexo e deliberadamente desconexo
converter minha dor em seiva quente
perdida em jorro nessas grutas
como cardumes laminados faiscando ao sol

E por esse doloroso amor candente ansiar
que desses seios brotem aranhas de perdão
e que abelhas em borboletas de mil cores
disseminem teu cheiro sobre o negro pólen
de meu ventre – e ansiar pelos teus líquidos
e deles crescer como meros cogumelos no orvalho
ou me reduzir como scargots ao sal
ou perseguir-me em círculos como um cão
no ato de ser feliz
ou apenas preencher-me até da solidão
de um gato errante e aprendiz


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